Plateado

poema de WAndrade

Aplacar a culpa, a vida rota e a desilusão.

Aumentar o quinhão do dízimo que se impôs, crendo assim, seguir caminho reto.

Ledo engano, pior destino.

Bem pior deitar a cabeça (de dia erguida num falsar dolorido) no travesseiro caro,

que ainda assim lhe debanda o sono.

Bem pior o reflexo do qual não pode fugir todas as manhãs,

olhar nos próprios olhos e ver quão vazia e solitária tornou-se a estrada.

Tudo o mais, quase, la plata oferece, adula, alcança, até delicadeza, vejam só!

Sim, os haveres impõem robustez de caráter, vigoram, por momentos,

o gorado, que o decadente nababo, em sua alma inconsistente... não vê.

Não quer ver e jamais admitirá que o solo impoluto que escolheu arar,

logrou-lhe apenas era encardida.

Então impõe silêncio e distância, supondo que tal postura conceder-lhe-á o

salvo conduto de alguma credibilidade.

Ledo engano, pior destino, agindo assim assina com letras graúdas o fiasco

que comprou prodígio; sanciona e lavra a lesa que fiou em ouro,

ficando exposto aquilo que sempre se soube.

WAndrade - 15/10/2013